MARANHENSE TRABALHADOR


MARANHENSE TRABALHADOR


Antonio Pinheiro Nolêto, o filho mais velho de 7 irmãos, sua mãe era viúva e ele teve que trabalhar para ajudar a mãe no sustento da família.

Casou muito cedo e não teve o prazer de ter uma família porque a esposa morreu de eclâmpsia com menos de um ano de casado e com ela o seu 1º filho.

Antônio ficou muito triste, mas pediu forças a Deus e ajudado pelo trabalho conseguiu diminuir a tristeza.

Trabalhou muito e até se embrenhou nos castanhais do Pará, foi vendedor ambulante e depois de 2 anos de viuvez e  de muito refletir resolveu viajar pensando na sua melhoria de vida, dirigiu-se a um povoado em Goiás chamado Piabanha hoje (Tocantínia) mas encantou-se com um lugar à margem esquerda do Rio Tocantins que tinha apenas 5 casinhas, um engenho de fabricação de aguardente e uma loja do senhor Temístocles Sardinha, desistiu do plano de morar em Piabanha e fixou residência no povoado chamado Bela Vista (hoje Miracema do Tocantins).

Trazia mercadorias para vender como: “fazenda” (corte de tecidos) de várias cores como: algodãozinho, murim, chiffon, tricoline, chita e outros. Os compradores que não tinham o dinheiro para pagar a mercadoria, trocavam por couro de boi, ou penas de animais silvestres, (como ema). Aconteceu no ano de 1929.

Tinha conterrâneos em Piabanha (Tocantínia) e sempre estava lá e conheceu aquela que seria a sua esposa Euzébia apelidada de Euzebinha. Conversando com seus amigos eles deram as melhores informações dela.

Ele se apaixonou, com poucos meses estavam noivos e menos de um ano casados.

Antes do casamento construiu uma casa e ao lado dela uma menor para abrigar as pessoas que vinham do maranhão, principalmente de Carolina, para que eles pudessem construir com calma suas casas, a casinha do senhor Antônio abrigou entre elas a família do Sr. Américo Vasconcelos, Sr. Pedro Teixeira e outras.

A família crescia e Antônio com sua inteligência descobriu o que para ele seria a solução da família e dialogou com sua esposa:

- Eusébinha se nós fôssemos para o “sertão bruto” (tudo era mata e quem quisesse poderia ficar com um pedaço da terra) escolheríamos um lugar, trabalharíamos muito, poderíamos até ficar ricos.

- Tonho eu tenho muito medo de ficarmos na roça e depois nossos filhos não estudarem assim que atingirem a idade escolar.

-Eusebinha eu te garanto que não mediremos esforços para procurarmos uma boa cidade para nossos filhos estudarem assim que atinjam a idade escolar.

- Sendo assim irei para onde for necessário.

Os filhos foram chegando, 1º o Raimundo, a primeira criança que nasceu em Miracema, Adalgisa, Luzia, Ruzulina, Antônio Nolêto Filho, Isabel e João.

Em 1933 quando a Luzia nasceu o Antônio falou: Minha velha, quando você terminar o resguardo (naquele tempo era de 40 dias) iremos cumprir o nosso acordo e mudaremos para o “Sertão Bruto”.

Quando passaram alguns meses minha mãe já estava novamente grávida.

Euzebinha deu a luz, se recuperou, tinha chegado a vez da mudança.

Quando chegaram naquela nova morada que recebeu o nome de Pequizeiro e estava a 10 léguas de Bela vista, quanta tristeza! Venderam tudo o que tínhamos para comer, pois diziam para o papai que para onde nós íamos não faltava nada.  Meu pai coitado para quem a responsabilidade de estarmos lá era muito grande fez o que podia, mas muitas vezes a minha mãe chorando comia sem arroz, sem farinha porque não se encontrava nada para comprar e os habitantes dali eram movidos pelo desânimo diziam: que nada  que se plantava   era colhido porque ou não nascia ou não prestava para colher.

Todos os dias depois de tomar o minguado café, meu pai colocava os jacás no lombo do burro, montava na garupa e percorria léguas e léguas na esperança de encontrar alimentos para comprar, o que não acontecia. No outro dia ia para outro lado sem sucesso.

Antônio resolveu parar com as andanças e auxiliado por vários homens escolheu um terreno, derrubou o mato, queimou, e encoivarou e depois de vários dias plantou. Qual não foi a surpresa de todos quando o arroz nasceu com toda força, quando o feijão era de fazer inveja para aqueles que nunca tinham tentado plantar.

Daquela época em diante ninguém mais podia falar mal das terras daquela região porque elas eram de 1ª qualidade para a agricultura.

Depois de construir a casa da futura fazenda era hora de ir comprando o gado para iniciar a criação.

Foram construídas a residência e 3 salas para a loja de tecidos, secos e molhados.

Era necessário construir também a casa de rancho como era chamada uma casa para receber pessoas do sertão, principalmente fregueses que vinham fazer compras e que chegavam de todos os lados para comprar na loja do seu Antônio.

Euzebinha se desdobrava: cuidava da casa, cozinhava, vendia na loja, cuidava dos filhos e ainda costurava para as pessoas de casa, para os trabalhadores da fazenda em troca de serviços.

O comércio era intenso, nos fins de semana minha mãe ficava cansada, pois eram muitas as pessoas que se arranchavam em nossa casa para fazer compras.

Minha mãe tinha sempre pessoas que ajudavam, mas quando faltavam sofria muito e se cansava mais ainda.

O trabalho foi duro, muitas dificuldades que foram superadas com a coragem e o espírito de fé e a esperança do jovem casal de dias melhores.

A família prosperava, tudo já era mais fácil, havia fartura, não faltava nada na casa, as crianças eram saudáveis e eram alfabetizadas pela mãe que valorizava muito o estudo.

A medida que os filhos cresciam a mãe se inquietava e temia pelo futuro dos filhos, para ela tudo estava acabado se os filhos não estudassem e começou avivar a memória do marido, acordando-o altas horas da noite lembrando-o do trato, pois os filhos estavam crescendo e era hora do cumprir o que foi combinado, de procurar a cidade para os filhos estudarem.

Foram meses de conversas, planos e organização.

Finalmente, no dia 6 de março de 1940 a família Teixeira Nolêto deu adeus ao  Pequizeiro e dirigiu-se à Porto Nacional cidade que primava pela cultura, educação e formação dos jovens de várias cidades.

Meu pai matriculou-nos no Colégio Sagrado Coração de Jesus, escola muito boa que tinha internato e externato e que era das irmãs Dominicanas oriundas da França e que exigia muito dos alunos que  funcionava em período integral.

Ao chegarem a Porto Nacional, meus pais escolheram para morar Trizidela (vila ou povoado do lado esquerdo do Tocantins), do outro lado do rio era a cidade de Porto Nacional, era uma ótima região para o comércio, tanto para vender como para comprar.

Tudo o que queríamos comprar aparecia na porta, além de tudo isso, comprava e vendia ouro, abundante naquela região.

Foi um tempo de prosperidade, empanado pela malária que acometeu toda a família, tirando a alegria de adultos e crianças.

Já se passaram muitos anos e eu nunca me esqueci daquela época em que nenhum cobertor era capaz de diminuir aquele frio, os ossos doíam, a febre era muito alta e os remédios difíceis de tomar.  O quinino estava presente em todos. Tomamos maleitosam, maleisim, caches de quirino e por fim atebrina .

Meus pais verificaram que era impossível permanecer naquele lugar e perderem os seus filhos para a malária (naquele tempo era chamada de impaludismo).

Papai, Sr. Antônio, ao chegarmos na Trizidela, comprou uma canoa e contratou uma pessoa de confiança para todos os dias nos levar para escola e depois nos trazia, era muito cansativo e as crianças ficavam poucas horas em casa.

Depois de conversarem meus pais resolveram morar em Porto Nacional, alugaram uma casa e tudo ficou mais fácil.

Quando surgiu o garimpo dos Piaus (garimpo de cristal) diziam que lá era muito bom para o comércio e meus pais resolveram aventurar passaram algum tempo em Piaus.

Muitas pessoas ficaram ricas e outras gastaram o que tinham e o que não tinham e ficaram mais pobres.

Para o comércio era muito bom aquele garimpo. Os garimpeiros compravam o dia todo e muitas vezes era eles que davam o preço nas mercadorias, batiam nas portas dos comerciantes a qualquer hora do dia ou da noite.

O dinheiro era tanto que notas caiam atrás dos móveis e ninguém sentia falta, apesar da prosperidade minha mãe não se deu com o clima e adoeceu: problema de vesícula, pneumonia e teve que se tratar em Anápolis.

Quando a mamãe chegou de Anápolis o casal verificou que não podia ficar mais em Piaus porque a mamãe tinha naquele tempo saúde frágil e o clima de Piaus não era propício para ela e resolveu voltar à Miracema e aqui fez planos para continuar os estudo dos filhos em Porto Nacional, era difícil porque o papai dizia: minhas filhas não ficam em pensão. Eu fiquei na casa de uma colega e amiga e os outros irmãos foram também, mas ficaram em casa de amigos pagando a estada.

Naquele tempo tinha o exame de admissão para poder ingressar no Curso Ginasial com provas escritas e orais, os alunos eram interrogados por pessoas desconhecidas e só o nervosismo causado pela presença dos desconhecidos fazia com que se apagassem da memória o que sabíamos.  Mesmo com todas as dificuldades passando o susto do desconhecido não nos tirou o prazer de sermos aprovados.

O papai dizia: tratem de passar nos exames porque se não passarem os homens irão para roça, as mulheres para cozinha e adeus estudos. Todos nós fomos aprovados pelo conhecimento aliado ao medo do cumprimento da promessa do Sr. Antônio Noleto.

Assim era o meu pai, quando fazíamos o curso primário em Piaus, terminávamos a 4ª série eu e minha irmã Luzia.  Naquele tempo eram feitas festas no termino da 4ª série primária, preparamos a festa, ajudados pela nossa família, organizamos a recepção para os parentes e amigos, compramos roupas novas, vestidos brancos com bolinhas pretas, calçados novos e depois de recebermos o certificado haveria um grande baile em nossa homenagem.

A Luzia e eu estávamos na maior felicidade porque pela 1ª vez iriamos ver como era um baile.
Seu Antônio Nolêto (meu pai) ao anoitecer mais ou menos às 20 horas, testemunhou a nossa alegria, alegrou-se conosco e   disse: É hora de nos recolhermos, tivemos um dia cheio, e cansativo e temos que descansar, não o entendemos e perguntamos: papai, o senhor está brincando? Temos que participar da nossa festa e ele com aquele sorriso irônico falou: minhas filhas não discutamos, é hora de nos recolhermos e pronto, eu sei que vocês vão fazer falta na festa e que muitas pessoas virão ver o que aconteceu, baterão nas portas e chamarão por vocês, finjam que estão dormindo que eu farei o mesmo, amanhã teremos notícias se a festa foi boa. 

Um nó apoderou-se da minha garganta as lágrimas teimavam em cair, queimando os meus olhos e eu queria desaparecer para sempre e não ter que encontrar com meus colegas.

Depois de chamarem, baterem nas portas tiveram a impressão de que a casa estava deserta. O meu pai saiu-se com essa, as meninas estavam muito cansadas e adormeceram o sono era tão profundo que por mais que as chamassem não acordaram.

Muito eu podia falar do meu querido pai que era um exemplo de homem, de filho, de pai e de esposo.
Desempenhou em Miracema muitos trabalhos importantes:  foi fiscal, juiz de paz, delegado, comerciante, fazendeiro e um leitor assíduo.

Em 1979 meu pai que estava quase cego foi à Brasília para submeter-se a uma cirurgia, estava acompanhado da mamãe de minhas irmãs Ruzulina e Isabel, foi uma cirurgia que deixou todos contentes, mas por ele ter fumado durante muitos anos contraiu enfisema pulmonar, em razão da cirurgia precisou ficar  deitado por 3 dias  e ao sentar foi acometido por uma insuficiência respiratória que o levou a morte  e assim terminava a vida terrena do maranhense trabalhador, com  80 anos e deixou muitas saudades.

Euzébia a esposa, depois de 8 meses que o Tonho (como era chamado por ela) faleceu ela também nos deixou. Ficando só o seu exemplo de mulher autêntica e trabalhadora.

São seus oito filhos:

Raimundo (Mundico) 1º advogado nascido aqui em Miracema
Adalgisa professora trabalhou na educação por 48 anos.
Maria : Nasceu de 8 meses, óbito fetal
Luzia: morreu aos 16 anos.
Ruzulina professora dedicada trabalhou em Miracema e na Capital do pais
Antonio Nolêto Filho ingressou no exército passou por várias progressões e hoje é um aposentado
Isabel professora foi delegada de ensino, por 3 vezes, coordenadora da menores mirim, coordenadora da merenda escolar estadual, secretaria municipal de educação e presidente de partido político.
João que até os 18 anos parecia normal, tinha um transtorno mental e morreu aos 22 anos.

Adalgisa Nolêto Perna




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