Sonhos Concretizados




Menina-moça bonita e sonhadora como toda adolescente de qualquer parte do mundo. Morava  em uma vila  aonde  todos os habitantes se conheciam e aos 15 anos  teve que tomar a responsabilidade de uma  dona de casa pois sua mãe morreu e seu pai deixou o trabalho de competente marceneiro para se entregar ao álcool.
Euzébia costurava e alfabetizava as crianças da comunidade, tinha sempre alguém para ajudá-la nos trabalhos domésticos, era querida por todos e a vida daquela moça e daquela comunidade transcorriam sem qualquer novidade.
Euzébia já completara vinte e seis anos e a rotina era a mesma, não mudava em nada.
A vida continuava sem qualquer novidade, naquela comunidade. Não acontecia nada de novo.
Piabanha como era chamada o povoado foi acordada um certo dia com uma novidade que passava de boca em boca e chegava a todos  os habitante da vila trazendo alegria e esperança.
Os diálogos eram constantes: - Você já viu o novo habitante de nossa comunidade? É um rapaz e parece ser boa pessoa.
-Não, ainda não tive a oportunidade de encontrá-lo.
-Por que tanta alegria?
- Porque não recebemos visitas há muito tempo e quando aparece alguma é motivo de alegria...
Antônio deixou Carolina maranhão para morar em Piabanha.  Trazia mercadoria para vender se os compradores não tinham dinheiro ele recebia couro de bois e penas de aves silvestres.
Antônio era viúvo,  pois sua esposa tinha morrido de eclampsia  no primeiro parto  morrendo ela e a criança. Ele era jovem e estimulado pelos novos amigos, procurou conhecer Euzébia e logo se apaixonou, o mesmo aconteceu com ela.  o casamento foi marcado e  depois  de 6 meses, era a hora de sua realização.
Todos os amigos que não eram poucos queriam ajudar. Cada amigo ou amiga se oferecia para fazer alguma coisa, queriam que o casamento fosse lembrado pela noiva como um conto de fadas.
Antônio  já estava morando em Bela Vista uma vila do outro lado do Rio Tocantins.
Depois do casamento,  o casal foi morar em Bela Vista e começava para a jovem senhora uma vida que ela não conhecia. Apesar do marido ser um bom homem tudo era  diferente da que ela estava acostumada
Quando Euzébia cheia de  sonhos chegou a sua casa  o noivo não escondia seu contentamento e resolveu mostrá-lo para sua esposa, ofereceu um fogão a lenha  e uma lenha verdinha tudo isso para mostrar simpatia e consideração.  A fumaça cobria toda a casa, os olhos lacrimejavam e ela chorava sem parar e pensava; se soubesse que os homens eram tão indelicados eu não teria me casado...
Depois de rir muito, abraçando a esposa pediu desculpas,  dizendo que estava fazendo uma brincadeira.
A esposa aceitou as desculpas e continuaram felizes.
Era tempo dos gerais brutos, quem quisesse poderia escolher um pedaço  de terra e foi assim que aquele casal depois de alguns anos  deixou a vila  para ir morar por algum tempo em um lugar batizado de Pequizeiro.
O marido prometeu à esposa que quando os filhos precisassem  estudar mudariam para uma cidade que atendesse os anseios daquele  casal: o estudo dos filhos.
No Pequizeiro o casal era incansável, Antônio trabalhava para o sustento da família, cuidava da criação de animais, procurava formar a fazenda que aos poucos ia crescendo.
Euzébia trabalhava em casa, cuidava das crianças, ajudava o marido na loja, costurava para as pessoas de casa e para ajudar o marido nas despesas da fazenda.
Foram dias de muito trabalho e de muito cansaço, faltava tudo, não se encontrava nada para comprar e a desculpa dos moradores era de que a “Terra” não prestava e  tudo que se plantava ou não nascia ou nascia e morria logo.
Antônio não acreditou muito e fez uma grande roça, qual não foi a Surpresa de todos quando tudo que foi plantado foi colhido com sucesso. Daquela época em diante, os moradores deixaram a preguiça de lado, plantaram, colheram e espantaram a fome daquele lugar.
Tonho como era chamado por Euzébia, trouxe para aquela comunidade um exemplo de esforço e trabalho.
O casal prosperou,  o patrimônio cresceu e era hora de cumprir o acordo. Muitas pessoas diziam: “formiga quando quer se perder cria asa.” Mudaram para Porto Nacional.
A viagem para aquela cidade foi muito  difícil pois naquele tempo chovia muito, era mês de março e qualquer córrego transbordava e virava um rio.
Várias pessoas acompanhavam a família composta do pai, mãe e sete filhos, todos pequenos.
Os homens procuravam as cabeceiras dos córregos e mesmo assim era preciso acampar e fazer pontes. As crianças eram atravessadas por aqueles que nadavam bem. Foi uma viagem de 12 dias e até um dos cavalos que levava a bagagem morreu ao atravessar um córrego cheio. Valeu a pena porque em Porto Nacional as crianças tiveram grande progresso nos estudos.
Naquele tempo sugiram grandes garimpos, principalmente de Cristal. A família resolveu aumentar o patrimônio e passar algum tempo  no maior e mais concorrido deles: ‘Piaus”  o patrimônio foi aumentado mas as doenças começavam  a chegar para Euzébia: pneumonia, angina e outras.
Era hora de retornar à Miracema, chegando lá foi traçado um plano para continuação dos estudos dos filhos. Voltariam a Porto Nacional não com a sua família, mas durante as aulas ficariam em casa de famílias conhecidas e nas férias passariam em Miracema.  Concluído o curso ginasial alguns filhos foram para Brasília, outros para Goiânia e Belém, Os pais ficaram aqui trabalhando dia e noite para que o plano desse certo e os filhos cursassem uma faculdade.
Em 1979, Antônio teve problema de visão e foi  à Brasília fazer uma cirurgia, como fumou muito e tinha enfisema pulmonar não resistiu ficar vários dias deitado e faleceu.
Euzébia ficou muito triste e depois de oito meses também faleceu deixando a família cheia de saudades.
Findaram-se  assim as vidas de 2 pessoas, dois baluartes que enfrentaram todas as dificuldades e tudo fizeram pensando na família.  

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