FEBRONA

Foto madelperna


FEBRONA



Soluços abafados modificavam o ambiente da fazenda. A menina aproximou-se, pé-ante-pé, intrigada. Ouviu uma voz “comadre, comadre... eu gosto daqui e não quero ir embora”. A menina teve pena, mas verificou que era a melhor solução.
Febrona, uma jovem alegre e muito simpática, morena, alta, olhos grandes, aparentando uns 16 anos, era dona dos soluços. Trabalhava como auxiliar nos serviços domésticos.
Tudo começou quando um louco fugiu de uma vila, perto da fazenda do Sr. Jeremias. Caboclo era o seu nome. Vivia acorrentado e trancado em um quarto na sua própria casa. Ao ouvir falar do louco fujão. Febrona, com suas fantasias de menina-moça, criou um personagem e começou a amedrontar as crianças e adultos. Na sua mente doentia, o Caboclo estava na fonte, no pátio, nos currais, atrás da casa, nas árvores, sempre demonstrando muito medo. “olha o caboclo” “aonde?” “Em uma daquelas árvores” e todos falavam ao mesmo tempo: “não estamos vendo” e ela “desceu agora mesmo, está correndo.”
E Febrona prosseguia amedrontando a todos, principalmente a filha dos padrões, que era conhecida por Comadre, menina de 8 anos de idade, esta sim, tinha que estar presente nas aventuras da garota louca. Comadre já não dava de andar sozinha, tamanho era o medo que sentia.
“Comadre, tenho que lavar roupa” e lá ia a pobre menina levar mais uma pedrada. A comadre falava pela Febrona , confirmava tudo o que ela dizia, era a sua testemunha ocular. “Tia, a comadre vai comigo”. “ Tia, estou com medo de dormir sozinha” e a menina era conduzida para a terceira pedrada do dia.
O acontecido já se espalhara por toda a redondeza, o medo estava estampado em cada rosto, ninguém conseguiu entender o que estava acontecendo. Os vizinhos não paravam de comentar:
“Você já ouviu falar da assombração na casa do Jeremias?”
“Deus me livre!, cruz credo!, não quero nem passar por aquelas bandas!, os espíritos maus estão soltos.”
“Eu queria adivinhar o que o casal fez de tão ruim para está sendo perseguido pelos fantasmas.”
A família tinha que se mudar para cidade distante, os preparativos da viagem já estavam prontos, mas, antes da mudança, precisava desvendar aquele mistério. Homens e mais homens eram contratados para encontrarem o louco ou desvendar o mistério. Fora criado uma espécie de revezamento de trabalhadores, pois alguns já queriam cair fora.
Meio dia, sol a pino, todos tresnoitados. Adultos cochilam, crianças procuram entender... Era dia de lavar roupa no córrego. Febrona chorava e tremia com medo do encontro com o Caboclo.
“Tia, eu quero lhe pedir uma coisa... “Peça” “Eu quero que  a comadre me faça companhia, tenho que lavar roupa” A patroa chora de pena da filha alheia. “Mariinha pode ir com você, mas tenha cuidado com a minha filha” As pedradas comiam e os roxos aumentavam no corpinho da menina.
Antevéspera da viagem, roupa suja, medo, patroa que chora: É injustiça deixar Febrona ir lavar roupa sozinha, mas minha filha já está doente e muito nervosa... vou deixar a Mariinha lhe fazer companhia, mas todo cuidado é pouco!."
No córrego, roupas são pisadas e rasgadas. O Caboclo está furioso e só não danifica as roupas da amiga. O chefe da família já não aguenta mais. Sua cabeça é só confusão: muito medo pela família, cuidado redobrado com os filhos.
Manhã de Domingo, Sr. Jeremias não sabe mais o que fazer, está desesperado.
Ô de casa! Tem alguém aí? O dono da casa reconhece aquela voz e responde: “ entre estamos na sala.” Abraços, palavras de conforto. Seu Chiquinho era um grande amigo, viera à fazenda para ajudar a solucionar o problema que afligia aquela família . “Jeremias, só sairei daqui quando for resolvido este caso.” E assim passou a trabalhar, vigiando os passos da garota louca. Ela, por sua vez, preocupava-se com o visitante, mas fingia ignorá-lo. Seu Chiquinho, homem muito astuto, logo se aproxima de Mariinha, com ela faz amizade, conversa muito e descobre que a menina está sugestionada, nunca tendo visto o tal Caboclo.
Noite enluarada, família reunida. De repente, alguém grita “Ele me acertou!” O detetive aproximou-se, examina a pedra e constata que, apesar da chuva forte, a pedra está enxuta e conclui: “ Esta garota está nos colocando no bolso...”
A vida continua. Chiquinho e Jeremias já descobriram. A patroa não acredita. É preciso uma prova a qualquer preço.
Mais uma vez Febrona precisa de companhia e mais uma vez a patroa é ludibriada. Chegaram ao córrego, Febrona fala alto, briga com o Caboclo, deixa a roupa na tábua e volta para casa aos prantos. “ Mamãe, mamãe... o Caboclo desta vez quase quebra minha costela.” A mãe revoltada exclama: Esse louco quer matar a minha filha.”
É hora de tornar pública a descoberta. Em uma reunião familiar a dona da casa se convence. Seu Chiquinho não estava feliz: “É preciso dar um castigo para essa garota . Com o corpo encarvoado e atrás das árvores, que margeiam o córrego, aplicarei na mentirosa um grande surra e tudo ficará por conta do Caboclo. Os fazendeiros não consentiram tal castigo, chamaram Febrona, disseram-lhe tudo o que descobriram e pediram a seu pai que viesse buscá-la.
Muito choro. Tratamento para a criança, sossego para todos. A fazenda volta ao normal, acabaram-se as visagens. Ao longe, o trote de um cavalo, Febrona volta para casa.

 Adalgisa Nolêto Perna


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